Ouvi dizer que desejar que as pessoas que já partiram voltem para nós, é um acto tremendamente egoísta. Talvez sim. Se eu desejasse que voltasses para mim no estado que já estavas no fim da tua vida, era de um egoísmo extremo, mas eu queria que voltasses bem, com saúde, ainda alguns anos de vida, nem que para isso te desse alguns dos meus. Desculpem, mas não posso deixar de desejar parar de olhar infinitas vezes para uma fotografia tua, e ver-te sim á minha frente, em carne e osso. Não posso parar de desejar não ter que ver um filme antigo para recordar o som da tua voz, em vez de me sentar ao teu lado e conversar contigo horas a fio. É inevitável deixar de querer cantar para ti, em vez de cantar para pessoas que não ouvem a minha voz da mesma maneira que tu ouvias. Ou que em vez de tantas pessoas comuns que vejo na rua olharem para mim, fosses tu a cruzar-te no meu caminho outra vez. Ninguém me vê com os teus olhos. Ninguém vê aquilo que tu vias em mim. Mais um acto egoísta, mas olho tantas vezes para pessoas que passam por mim, e desejava que elas pudessem ter ido no teu lugar, e tu ficasses no lugar delas. Ainda te queria aqui, ainda te quero tanto. Provavelmente nunca vou deixar de querer, porque nunca haverá alguém que substitua o vazio que deixaste em mim. Assim como também não há ninguém que saiba a dor que ainda carrego em mim. Não gosto de dizer muitas vezes que ainda tenho saudades tuas, não que não as tenha, claro, mas porque ninguém tem que saber o tanto de ti que ainda carrego em mim. Espero que tu ao menos saibas, porque no fundo é só isso que me interessa. Que tu saibas que todos os dias sinto a tua falta. É um buraco fundo que jamais poderá ser preenchido. Porque tu não voltas, por mais que eu o deseje. Mas queria que estivesses aqui e visses como eles os dois estão grandes e bonitos. Queria dizer-te que arranjei um namorado, que só por acaso é do teu signo e do teu clube, e que sei que gostarias dele. Porque ele faz-me feliz. Nós os dois falamos sobre ti. E falamos das saudades que eu sinto tuas, e que ele sente do avo dele. Ultimamente é só com ele que falo sobre ti, porque ele tem a minha idade, e sabe o que sinto. Eu sei que ele sabe. Mas a ele dói-lhe mais, porque não se pôde despedir. Não pôde dizer adeus. Não pôde estar ao pé do avô dele quando ele se foi embora, e eu ao menos sei que estive sempre contigo enquanto pude. E mesmo que já não fale tanto sobre ti, ou que não diga tanto que sinto a tua falta, podes ter a certeza que nunca te esqueço. Porque podes ter morrido, mas em mim continuarás a ser eterno.