
"Agora quero que o vistas. Aqui mesmo, à minha frente." Travo-te a mão com que tentas fechar as portadas de madeira da janela: "Não. Livra-te de negar a tua beleza à luz de Estremoz. Hoje quero que te dispas para mim." E tu despes-te devagar diante da janela, depois vestes esse vestido longo, seguras o cabelo ao alto e pedes-me que corra o fecho éclair, e ao lado do fecho éclair, do lado de dentro, há um pedaço de verso que eu próprio não tinha visto: "Voa, coração. Ou então arde." Por isso a empregada da loja me dissera: "Esse vestido tem um feitiço. Mas só quem o abrir ou fechar pode descobri-lo." E eu abro o fecho éclair do vestido e tu sais dele para as minhas mãos, e volto a ver o castanho dos teus olhos luzindo no escuro, como da primeira vez em que te recolhi nos meus braços, há muitos e muitos anos.
Fica comigo esta noite - Inês Pedrosa
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